31 de agosto de 2016

"Quando entrei para o ciclismo todos me apelidaram de louco"

Aos 30 anos, Luís Mendonça vive um sonho que poderá atingir um nível que muitos dificilmente acreditariam ser possível quando há três anos resolveu ser ciclista. Chamaram-lhe louco, mas para o atleta a sua decisão e o que alcançou desde então são a prova que "nunca é tarde para nada". Convidado pela Funvic Soul Cycles-Carrefour para competir na Volta a Portugal, a inesperada oportunidade vai estender-se até à China, onde voltará a representar a equipa brasileira, Profissional Continental, na esperança de garantir um contrato.

"É realmente uma lição de vida. Nunca é tarde para nada. Quando entrei para o ciclismo todos me apelidaram de louco. Diziam que com a idade que tinha o corpo já não ia reagir a nada", recordou ao Volta ao Ciclismo. Luís Mendonça referia-se ao facto de na altura ser modelo (e também barman) e ter um corpo muito musculado. "[O corpo] estava muito virado para a moda e nada virado para o ciclismo." Foi um árduo caminho para conseguir cumprir aquilo que mais desejava: ser ciclista profissional. "Curiosamente, perder músculo é mais difícil do que perder gordura", afirmou, sorrindo. Explicou que "demorou o seu tempo a modificar o corpo, a afinar, a perder peso e a perder músculo", mas agora sente-se um ciclista. De 85 quilos, passou a pesar 68.

Foi aos 27 anos que resolveu levar a modalidade a sério, mas Luís Mendonça já tinha participado em competições: "Não posso dizer que fui um ciclista a sério porque fazia épocas de dois/três meses e deixava. Ia competindo..." Acrescentou que a faculdade também não o permitiu progredir como queria, mas agora que apostou a sério no ciclismo quer ver "até onde vai dar esta evolução".

A inesperada presença na Volta a Portugal

A competir pela Sicasal/Constantinos S.A/UDO, Luís Mendonça realizou um bom início de temporada. O ciclista considera que o terceiro lugar no Grande Prémio Abimota abriu-lhe "bastantes portas". Através do seu empresário, Diogo Sousa, surgiu a oportunidade de fazer a Volta a Portugal pela Funvic Soul Cycles-Carrefour.

"Não estava a contar ir à Volta a Portugal e cheguei lá com algum desgaste. Depois houve uma segunda surpresa: o andamento da Volta! Muito forte", admitiu Luís Mendonça, que ainda assim disse que a competição "correu acima das expectativas". "Apontei para seis etapas para chegar ao sprint. Chegaram algumas fugas o que limitou mais boas prestações. Mas três top dez... acho positivo." Na geral foi 56º a mais de uma hora do vencedor, Rui Vinhas.

"Com 30 anos, interessa-me mais a parte monetária. Não posso andar aí a salários mínimos. Tenho que aproveitar cada dia, aprender tudo muito rápido"

E a Funvic também teve a mesma opinião, pois resolveu levar o português até à Volta à China, que começa no dia 9 de Setembro. O desejo é conseguir assinar "um bom contrato para 2017". Luís Mendonça não tem dúvidas que a equipa brasileira será a melhor opção, comparativamente com as equipas portuguesas. "Em termos de profissionalismo talvez as portuguesas sejam melhores. Na Funvic ainda estamos a aprender muita coisa, mas com 30 anos, interessa-me mais a parte monetária. Não posso andar aí a salários mínimos. Tenho que aproveitar cada dia, aprender tudo muito rápido", salientou.

Na China, o ciclista do Porto sabe que "vai ser duro", mas mostra-se muito motivado para garantir um contrato com a Funvic. "A equipa quer crescer... quer contratar mais portugueses."

A garra, alegria e ambição com que compete comprovam que os 30 anos e o início tardio não impedem Luís Mendonça de procurar uma boa carreira no estrangeiro. E quando se fala em idade, o ciclista imediatamente refere exemplos: "Davide Rebellin tem 45 anos, Alejandro Valverde 36 e é o que nos vemos... é um enorme ciclista. A idade é apenas um número. O nosso estilo de vida, a forma como nos cuidamos, dita muito a nossa saúde, bem-estar e a performance física."

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